CARLOS
LORDELO / ESTADÃO.EDU
O Estado de S.Paulo
O Estado de S.Paulo
Alunos do
grupo educacional Anhanguera fazem hoje à noite mais uma manifestação contra o
que classificam de "abandono e precarização do ensino". Os estudantes
reclamam de problemas de infraestrutura, da demissão de professores e da
implementação de atividades online que deixam os câmpus vazios sobretudo nas
noites de sexta-feira.
Desde o
início do ano protestos semelhantes têm ocorrido em várias unidades da
instituição. Desta vez, a mobilização será na Uniban da Rua Maria Cândida, na
Vila Guilherme, zona norte de São Paulo.
A
Anhanguera Educacional, cujas ações são negociadas em bolsa, é o maior grupo
privado de ensino superior da América Latina. A companhia fechou 2011 com valor
de mercado de R$ 2,93 bilhões. No ano passado, comprou a Uniban, na maior
aquisição da história do setor no País. Ultrapassou a marca de 400 mil alunos e
consolidou a posição de liderança com 73 câmpus e 500 polos de educação a
distância espalhados pelo Brasil.
O modelo
pedagógico do grupo se baseia na utilização do Ambiente Virtual de Aprendizagem
(AVA) como ferramenta de apoio a todos os seus cursos. No site, os alunos têm
acesso a videoaulas, apostilas e exercícios e devem discutir os assuntos em
fóruns e chats. A prática está de acordo com portaria do Ministério da Educação
(MEC) que deixa as instituições de ensino oferecerem até 20% da carga horária
das graduações em módulos semipresenciais. As avaliações têm de ser presenciais.
Demissões em massa. Mas os
estudantes da Anhanguera reclamam da qualidade das atividades, de problemas
para acessar o material e da falta de acompanhamento de professores e tutores.
Os sindicatos de docentes, por sua vez, falam em demissões em massa, corte de
custos e subversão das orientações do MEC.
O aluno do
3.º ano de Educação Física Gunther Hager, de 37 anos, diz que o seu link da AVA
só foi habilitado há 15 dias. Segundo ele, a própria coordenação do curso
avisou à turma que não se preocupasse com o tempo perdido. "Falaram que
era só fazer um trabalhinho depois. Você acha que eu vou me matar para assistir
a 30 horas de aula para depois fazer um trabalhinho?"
Como as
atividades são online, os estudantes não se sentem obrigados a ir à faculdade
às sextas-feiras. Os colegas de Hager até alugaram um campo de futebol para
jogar bola no "horário livre". Enquanto isso, o câmpus fica
praticamente deserto.
O Estado
esteve na unidade da Maria Cândida na semana passada e encontrou corredores
vazios. Em algumas salas havia aula e, em outras, pequenos grupos de alunos se
reuniam para discutir trabalhos. No câmpus são oferecidos 16 cursos de
graduação.
O aluno do
2.º ano de Direito Wilson Santos, de 37, vai à Uniban assistir a palestras
visando a somar horas de atividades complementares. A de sexta-feira foi sobre
aposentadoria. "A galera que não está nem aí gosta de não ter aula. Aposto
que a esta hora não tem ninguém estudando."
Calouro de
Fisioterapia, Paulo Rogério, de 45, só tem duas aulas às quintas e
sextas-feiras. Ainda não conseguiu acessar o AVA, embora afirme estar em dia
com a instituição. "Estou pagando para ter 20% a menos de aulas."
Segundo o
presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo, Celso
Napolitano, cerca de 1,5 mil docentes, a maioria mestres e doutores, foram
demitidos da Anhanguera nos últimos meses. "Os professores são a
matéria-prima que dão qualidade ao ensino superior", reclama.
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