segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

EaD: precarização nas relações de trabalho e mercantilização do ensino



Vivemos a era da Tecnologia. Não há dúvidas quanto a isso. A Tecnologia tem a um só tempo ocupado o lugar nefasto do grande Mal, diante do qual temos que resistir, e substituído sistematicamente a ação humana. Essa contradição é , em grande parte, o fundamento que nos impede de tratar, com a profundidade que o tema merece, o “inevitável” uso das novas tecnologias na educação, em especial na educação superior.
Muitos especialistas, alinhados ao discurso do governo federal, insistem que a tecnologia é a ferramenta que promove ampla e irrestrita inclusão social. A ilustração de tal argumento fica a cargo do EaD, que chega onde escola nenhuma chegou e permite às pessoas, sabidamente excluídas, o tão sonhado acesso ao diploma superior e à possibilidade quase instantânea de ascensão econômica.
Lastreados os pólos, basta um clique para que a aula se realize de forma mágica. Os benefícios dessa modalidade – para aqueles que a defendem – vão longe: leva-se o ensino superior para os cantos mais remotos desse país, os alunos trabalhadores podem fazer seu próprio horário e a responsabilidade pelo sucesso da empreitada recai sobre o aluno que tendo compromisso e autonomia só pode mesmo alcançar o desejado sucesso.
Visto sob essa ótica chegamos a pensar como foi tardio o avanço do EaD no Brasil que agora sim avançará – a passos largos – em direção ao futuro promissor que nos aguarda.
Ironias à parte: o EaD está nos extremos abandonados – não apenas em educação – do país, mas está também nos grandes centros urbanos, tem obrigado inúmeros professores a se adaptarem a uma tal ferramenta que, ao cabo, é a sua própria negação: o professor (real) substituído pela sua imagem (virtual). O aumento vultoso do número de alunos atendido por um mesmo professor, a baixa remuneração e a transferência da responsabilidade pelas condições de trabalho para o próprio professor: que via de regra deve ter um computador moderno e instalações adequadas para o atendimento a distância do aluno, têm contextualizado a realidade dos professores desse segmento.
O Ensino à Distância, no entanto, é só mais uma faceta do desmantelamento de que a educação vem sendo alvo no Brasil. Basta verificarmos que o PROUNI teve uma expansão muito rápida, usando como referência, a transferência de dinheiro público para a iniciativa privada, permitindo, assim, um crescimento sem precedentes das instituições privadas de ensino superior.
Outra face preocupante do EaD é a criação de subclasses de docentes, que passam a atender por monitores, tutores, orientadores e outras denominações semelhantes. Tal como ocorre há tempos na educação básica: professores que são referidos como: tias, auxiliares, recreacionistas, facilitadores ... para enterrar definitivamente a máxima de Paulo Freire “Professora sim, tia não”. Não parece razoável que uma categoria profissional tão desrespeitada, como a dos professores, admita a criação de subclasse que em breve poderá também ser a daqueles que hoje ainda atendem por professores, mas cujas condições de trabalho podem – dentro da lógica do capital – ser sempre um pouco mais precarizada.
O EaD é uma modalidade de educação que só serve aos interesses mais espúrios do capitalismo e assim precisa ser encarado pelos professores e professoras que – pressionados ou não nesse momento – veem a sombra da tal tecnologia sobre suas costas. Serve ao capitalismo na medida em que torna a educação mais um item mercadológico restrito a números que nada dizem, esvazia de significado a profissão docente do mesmo modo que esvazia de significado a educação, pois quer fazer crer que nela há uma propriedade maligna: o professor. A educação, a exemplo de outros produtos, é mais uma mercadoria estranha à venda nas prateleiras, como por exemplo: o café descafeinado, o cigarro sem nicotina, o leite sem gordura, a cerveja sem álcool, o sexo virtual – sexo sem sexo...
A luta histórica dos trabalhadores por uma educação de qualidade e pública precisa ser evocada nesse momento para que possamos resistir e impedir que o governo federal e, especificamente o MEC, continue autorizando e incentivando o desmando que vem sendo marca do governo Lula na área da educação.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

MAIS UMA VITÓRIA

PROFESSORAS QUE TRABALHAVAM SEM REGISTROS NA CRECHE NÚCLEO HABITACIONAL PARAÍSO DO JARDIM JACY RECEBEM OS PAGAMENTOS ATRASADOS HOJE.

Depois das muitas manifestações que garantiram o pagamento dos 5 meses de salários atrasados às professoras e funcionárias registradas do Núcleo Habitacional Paraíso do Jardim Jacy, e depois também de muita espera das Secretarias da Educação e da Finanças, recebemos a informação de que as professoras que trabalhavam sem registro na instituição receberão seus pagamentos hoje.
Mais uma vitória da luta que só está começando: precisamos agora garantir que em todas as conveniadas professores e professoras recebam seus direitos integralmente, conforme Convenção Coletiva de Trabalho.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Resposta ao jornal Diário de Guarulhos

Na coluna “Opinião” do Diário de Guarulhos, edição de quinta-feira, 5 de novembro de 2009 (confira texto na íntegra: http://www.olhao.com.br/jornal/dgnews/jornal/materia.jsp?id=9143&ca=47 ), apresenta-se sob o título de “Caminhos para Roma” o artigo que trata dos recentes acontecimentos envolvendo as trabalhadoras do antigo Núcleo Habitacional Paraíso do Jardim Jacy e atual São João Batista.
Lamentável o fato de o referido artigo trazer informações gravemente equivocadas, pois há muito tempo apresentamos a demanda das escolas conveniadas à imprensa de Guarulhos a fim de tornar pública a situação dos trabalhadores e das crianças atendidas, mas é evidente que com o cuidado que essas informações exigem e que não foi o critério utilizado pelo autor da coluna.
De início, o emprego do termo “comandados” (terceiro parágrafo) não condiz com a prática sindical do Sinpro Guarulhos, pois pressupõe que alguém naquela circunstância mandava. Essa idéia por si só contraria a natureza daquela manifestação, assim como contraria o sindicalismo que praticamos: todas as decisões de encaminhamento foram tomadas com base em deliberação das professoras presentes, portanto o Sinpro – ali representado pelos diretores: Andréa, Nara, Ezio e Juan – no uso do papel político que lhe cabe, esteve junto dos trabalhadores e coordenou a ação. Talvez o jornal esteja acostumado com um sindicalismo personalista e autoritário, mas deve discernir práticas antagônicas.
Mais adiante o autor atribui a coordenação da reunião entre representantes do Sinpro, representantes da Secretaria de Educação e das professoras ao secretário de Governo Alencar Santana, essa falha mais grave inclusive que a anterior carece de reparos imediatos. O Sinpro dialogava naquele momento com Neide Marcondes Garcia e Josmar Nunes de Souza, ambos diretores da Secretaria de Educação. O Alencar chegou apenas no final da reunião, quando todos os encaminhamentos já tinham sido dados e não acrescentou nada, por outro lado é preciso salientar que apenas com a participação dos referidos diretores da Secretaria de Educação é que foi possível pautar com segurança os problemas e avançar nas possíveis soluções. Alencar, por sua vez, teve outras oportunidades de se mostrar sensível e comprometido com os problemas que os trabalhadores de conveniadas enfrentam desde longa data, e não o fez. Ao contrário, quando o Sinpro em 2006 fazendo uso da plenária na Câmara Municipal, devido a problemas semelhantes com a APEP, também conveniada, ele questionou os interesses do Sinpro em defender aquelas professoras, nos acusando de oportunistas e ignorando a situação enfrentada pelas trabalhadoras que estavam há três meses sem salários. Ora, é absolutamente inadmissível atribuir ao Alencar qualquer orientação para o Sinpro, por sinal: não queremos e não precisamos -, tampouco, atribuir a ele o sucesso da negociação. Nós não temos qualquer interesse no jogo político – esse sim muitas vezes oportunista – que diferentes grupos em diferentes circunstâncias podem ter, e não compactuamos com isso.
No final do artigo ainda constam dois problemas, o primeiro: “tudo se resolveu”. Não, a resolução só será afirmada por nós e pelas professoras do Jardim Jacy quando houver efetivamente o pagamento e mesmo assim, trata-se de uma solução parcial. Muito há que se avançar e regulamentar no trabalho docente em conveniadas e estamos, nesse momento, diante de uma possibilidade real de avanço. Contudo ainda é uma possibilidade.Finalmente, para encerrar o artigo com chave de ouro, o autor faz a seguinte afirmação “Depois dessa novela, tem muita gente se perguntando que caminho realmente leva a Roma.”. Nesse ponto, a infelicidade da opinião é ainda maior: é preciso distinguir ficção de realidade. A realidade é essa aí: cinco meses de salários atrasados e todos os problemas diretos que decorrem desse atraso... Isso é realidade! Os baixos salários dos professores das redes pública e privada, o acúmulo de trabalho, os freqüentes atrasos, salas superlotadas. Isso é realidade! Uma realidade da qual as professoras do Jardim Jacy são exemplos nesse momento e cuja condição econômica não permite sequer chegar ao edifício Itália, muito menos levar a Roma.