quarta-feira, 6 de abril de 2011

Jirau escancara a impossibilidade de conciliar capital e trabalho

O retrato de uma sociedade decrépita se evidenciou pelos acontecimentos envolvendo trabalhadores da Usina de Jirau. Fato com desdobramentos vários e que desembocou na paralisação subseqüente de 80 mil trabalhadores da construção civil em várias regiões do país. Acompanhamos o caso pela grande imprensa com uma incômoda impressão de que a Líbia é mais perto do Brasil que Rondônia, tamanho foi a empenho da mídia em tratar do problema como uma questão econômica ao invés de política.

Entre as já conhecidas opiniões preconceituosas destacaram-se informações que iam do vandalismo a desqualificação absoluta dos trabalhadores, pois se tratava de uma briga entre dois funcionários. Pelo solavanco impôs-se a necessidade de pronunciamento dos sindicatos, das centrais governistas (CUT e Força Sindical), da empreiteira Camargo Correa e do governo federal que se esmeraram em declarações evasivas, quando não falaciosas.

Visto como vandalismo gratuito pela empreiteira e pelo sindicato (STICCERO) que não reconheciam nas condições de trabalho oferecidas quaisquer razões para tamanha revolta e como um prejuízo ao PAC pelo governo federal e pela CUT, o que se descortinou a partir da revolta de Jirau foi a prática de ampliação dos lucros por parte das empreiteiras, baseada na primitiva idéia da super exploração dos trabalhadores, contratados de forma terceirizada.

A prática da terceirização deve por si só ser condenada, pois consolida a precarização nas relações de trabalho, se conduzida por “gatos” – senhores do mato ou coisa que os valha - piora em muito, pois leva a um regime de escravidão velada sob o manto do progresso, porque, sob a ótica do governo e da burguesia - é evidente -, não podemos ignora nossa vocação para o progresso anunciada pelo PAC, ainda que o custo disso seja o sacrifício de milhares de trabalhadores.

O sindicato da categoria – em coro com a Central Única dos Trabalhadores – alegou de início não haver motivação trabalhista para o levante e o governo federal prontamente mandou as forças armadas para controlar o conflito, tratando como caso de polícia a indignação incontida daqueles trabalhadores. A continuidade da paralisação os obrigou a mudar o tom das declarações, passaram então a reivindicar para si a organização e representação dos operários.

Não é de hoje que a CUT é o braço forte do governo federal, com a tarefa de apaziguar os ânimos dos trabalhadores descontentes, de acalmar aqueles para quem os números da economia nada dizem e que convivem todos os dias com a exploração e com a humilhação.

As tensões que levaram à explosão de manifestações – Jirau, Santo Antônio, Suape... – precisam ser encaradas imediatamente como um problema político que está diretamente associado ao modo como o governo federal tenta conciliar “capital e trabalho”, cuja concretização indecorosa se dá nos canteiros de obras do PAC e tem levado milhares de operários à condições degradantes de vida e trabalho.


Andréa L. Harada Sousa

Presidente

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